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Eu não matei os papéis amarelos - Poema de Flor, Priscila


um trecho do poema da escritora flor priscila
As lembranças estavam interditadas,
subfaturadas em meu condomínio em
construção,
Lá no topo do morro, onde o ego canta grave,
cavei profundamente até sangrar as mãos,
Na terra úmida enterrei o baú,
Inaugurei o cemitério particular,
Pouco depois conferi
“sim, estão mortas, perfeitamente mortinhas!”,
As cenas estavam confinadas ao desejo de poeta,
Lucrei com as juras, as melodias,
Um livro inteiro nasceu do enterro,
Acabou-se o sossego em poucos dias.
Ainda que no terreno mais alto,
Distantes do lençol freático para que não
contaminassem minha água, meu sangue, meu
suor,
Elas voltaram
(sempre voltam)
em carne, osso e cheiro
(sobrevivem)
em passeata vingativa,
Por mais que eu tente escapar,
As lembranças viverão enquanto eu estiver viva.

Flor, Priscila

Poema do livro "Tentativas de Leveza" disponível na lojinha do site.

Texto protegido por lei. Jamais reproduza sem nomear a autora e o seu livro!


 
 
 

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